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terça-feira, 9 de março de 2010

Sacolas plásticas: podemos viver sem elas?

“Sai de casa e vai ao comércio, em cada loja que entra para comprar um produto ganha uma sacolinha. Vai à farmácia, ganha a sacola. Vai no supermercado, ganha outra. Quando vê, volta pra casa com aquele monte de sacolas. É um desperdício.”

O mundo X Sacolas plásticas

Os Estados Unidos são os campeões no consumo de sacolas plásticas no mundo: 100 bilhões ao ano. Para fabricá-las, anualmente são necessários 12 milhões de barris de petróleo. Mas São Francisco, na Califórnia, se tornou a primeira cidade norte-americana a proibir o uso de sacolas plásticas em 2007, e outras cidades como Filadélfia, Boston e Seattle estão seguindo o mesmo caminho.No início de 2008, a China proibiu a distribuição gratuita de sacos plásticos no comércio. Em Bangladesh, na Austrália e na cidade do México aconteceu o mesmo. Na Itália, elas serão proibidas a partir de 2010. Na Alemanha, na Dinamarca, na África do Sul e na Irlanda, é preciso comprar sacolas plásticas nas lojas. Parte desse dinheiro é investido em gestão do lixo nas cidades. Em Zanzibar, um conjunto de ilhas na África, o governo foi mais radical. Como o turismo ali é a principal atividade econômica e as sacolas plásticas estavam afetando a vida marinha, quem for pego usando sacola plástica vai preso por seis meses ou paga dois mil dólares de multa.

Saco é um saco

Seguindo a tendência mundial de combate ao excesso de consumo de sacolas plásticas, o Ministério de Meio Ambiente lançou, em junho, a campanha “Saco é um saco”, que visa despertar a atenção da população para a questão e provocar uma mudança de hábitos que culmine numa redução de resíduos sólidos. “A campanha está tendo um retorno muito positivo. A Wal-Mart,uma grande empresa de varejo, aderiu primeiro, mas agora a lista está enorme, com a adesão de outras grandes empresas como o Carrefour e a Kimberly Clark. E a tendência é que essas parcerias aumentem”,explica Fernanda Daltro. Ela conta que já existem diversas prefeituras e governos estaduais procurando o Ministério: “Somos uma referência, e estamos defendendo um bem muito maior, que é a natureza. Nós temos de estimular o debate na sociedade e ir trabalhando em diversas frentes, seja governamental, empresarial ou social”.

Uma das ações governamentais que vem se popularizando no país no combate às sacolas plásticas é a substituição delas pelas chamadas sacolas “oxibiodegradáveis”. Três estados já adotaram sacolas desse material: Goiás, Espírito Santo e Maranhão, além de alguns municípios, como Sorocaba e Guarulhos (SP). Outros, como São Paulo, vetaram projetos de lei que propunham a troca. Tudo por conta das dúvidas a respeito da sua degradação. Apesar de os fabricantes garantirem que elas desaparecem no meio ambiente em até 18 meses, o Ministério de Meio Ambiente não apoia essa nova tecnologia, pois nem mesmo no Canadá e na Inglaterra, onde foi desenvolvida, sua produção foi liberada. O professor do Programa de Engenharia Química da Coppe/UFRJ, José Carlos Pinto, afirma que essas sacolas são uma solução ambientalmente incorreta: “Elas se transformam em pó e obviamente poluem o solo e a água. Além disso, para fazer essa transformação, utilizam-se catalisadoresà base de metais pesados como titânio e chumbo, que vão poluir mais ainda e poderão voltar ao corpo humano através de carnes e vegetais contaminados, o que é um absurdo”. Para o químico, a solução para as sacolas plásticas está na reciclagem e no reúso. Fernanda Daltro concorda. Além da reciclagem, a redução do consumo e o descarte adequado são os principais focos de atenção das políticas públicas. “Não temos, por exemplo, a coleta seletiva estruturada no país. Apenas 10% dos municípios possuem coleta seletiva. Precisamos implementar uma estrutura pública que permita uma coleta de resíduos sólidos adequada, para que as pessoas deixem de desperdiçar”. Menos seria demais! Não é o caso do Rio de Janeiro, que saiu na frente e se tornou o primeiro estado brasileiro a criar uma lei que obriga os estabelecimentos comerciais a substituírem, ao longo dos próximos três anos, as sacolas plásticas por sacolas retornáveis. A lei fluminense determina ainda que o cliente poderá trocar 50 sacos por um quilo de alimento ou ganhar um descontode R$ 0,03 a cada cinco itens levados fora de sacos plásticos. Para o presidente do Conselho Empresarial de Meio Ambiente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Haroldo Mattos de Lemos, essa lei ainda precisa de ajustes. “Ao invés de proibir as sacolas plásticas, por que não se estimula o seu reúso, como acontece na Europa? Lá, o cliente usa uma sacola plástica mais resistentee, quando volta ao mercado, ele a leva, pois senão vai pagar por uma nova sacola”.

Essa alternativa esbarra numa questão chave: a má qualidade das sacolas plásticas brasileiras. Segundo a Associação Brasileira de NormasTécnicas (ABNT), existe uma norma estabelecida para esse produto, que deve ter uma espessura adequada para agüentar até seis quilos. Mas a realidade é bem diferente. A qualidade das sacolas de supermercado é tão ruim que obriga o cliente a usar duas e até três sacolas de uma vez para carregar os produtos. “Infelizmente, não existe legislação para regulamentar isso. A norma da ABNT é apenas uma norma, que o fabricante respeita se quiser. O lojista deveria cobrar mais qualidade, mas isso é delicado, pois mexe com custo.” Mattos argumenta que caberia ao próprio cliente cobrar pela qualidade das sacolas plásticas: “Só assim o dono do mercado poderia exigir do fornecedor uma sacola mais resistente,o que poderia reduzir o número de sacolas em circulação”. Ele afirma que os donos de supermercados e outros lojistas estão acompanhando a aplicação da lei com preocupação, e defende que a proposta de troca de sacolas por alimentos deveria ser revista, já que não há uma contrapartida do governo. “O objetivo principal da lei não é reduzir o consumo de sacolas, mas proteger o meio ambiente, e por esse objetivo estamos todos juntos lutando. Por isso, precisamos ajudar os legisladores a aperfeiçoar a lei, à medida que as dificuldades forem surgindo”, destaca.

Outro problema é a adesão da população: cerca de 80% das pessoas vão ao mercado a pé ou de ônibus e a sacola plástica facilita muito o transporte das compras. Fabíola dos Santos é um bom exemplo. A estudante de Direito de 22 anos assume que teria preguiça de levar uma sacola retornável de casa cada vez que fosse à rua fazer compras. “Acho a lei superválida, mas muito difícil de pegar. Carioca é meio folgado, sempre vai querer dar um jeitinho, ainda mais se tiver de pagar pela sacola retornável, vai sempre preferir o caminho mais fácil”. Mas confessa: “Hoje eu penso assim, mas, no futuro, quem sabe, se todo mundo aderir, eu até poderia me esforçar, comprar uma sacola retornável e mudar meus hábitos”. Já Pedro Nascimento Peixoto, de 76 anos, é o oposto. Este autodenominado “jovem advogado aposentado” é um entusiasta da ideia de substituir sacolas plásticas pelas retornáveis: “Eu sou do tempo em que se fazia mercado com sacola de algodão e não tinha nenhum problema. Assino embaixo e vou aderir à lei, sim. Quero um mundo melhor para minha neta. Lá em casa sou eu quem faço as compras e evito levar tantos sacos. Vou começar a estimular os amigos a fazer o mesmo. As pessoas precisam se conscientizar de que usam sacolas plásticas demais!” Carioca da gema, o dr. Pedro lamenta as praias poluídas. “O mar é o mais prejudicado. Tanto plástico só serve pra poluir o meio ambiente”, sentencia.

Mudando Hábitos e mentes

O entusiasmo do dr. Pedro parece ter acompanhado os adeptos da campanha “Saco é um saco”. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, a Wal-Mart, por exemplo, registrou, só nos meses de julho e agosto de 2009, uma redução no consumo de quatro milhões de sacolas plásticas em suas lojas. A adesão à campanha faz parte de um conjunto de ações que vêm sendo adotadas desde o final de 2008 e que fazem parte do projeto Sustentabilidade: “Já vendemos mais de 2 milhões de sacolas retornáveise já evitamos o consumo total de 9,1 milhões de sacolas plásticas oferecendo descontos para quem deixa de usá-las. Acreditamos que a empresa tem um papel importante na reeducação de hábitos de consumo”, afirma Cristina Cassis, responsável pelas relações com a imprensa da Wal-Mart.

Fernanda Daltro, do Ministério de Meio Ambiente, acredita que é pela educação que se muda esse quadro: “A lei das sacolas no Estado do Rio deve ser acompanhada de uma campanha educativa, para conscientizar as pessoas da importância, para a vida delas, de se diminuir o uso das sacolas plásticas.” Em Belo Horizonte, por exemplo, onde desde fevereiro deste ano as sacolas plásticas começaram a ser abolidas dos supermercados, na prática, nada parece ter mudado. Célia Franco, bancária aposentada de 63 anos, costuma usar uma sacola retornável por hábito, mas não percebeu mudanças grandes nos mercados e lojas que frequenta: “O que eu notei é que, antes, as sacolas plásticas ficavam à disposição de quem quisesse pegar aos montes. Hoje, elas ficam em caixinhas como de lenço de papel, e só dá para tirar uma por uma.E as sacolas retornáveis estão mais à vista”. Outra coisa que a aposentadareparou é que nos mercados mineiros existe o hábito de deixar caixas de papelão à disposição dos clientespara guardarem as compras. “Isso facilita a vida de quem usa carro para fazer mercado”, afirma ela. Fernanda Daltro destaca que essa é uma boa alternativa às sacolas plásticas: “Deixar engradados no portamalas ou sacolas retornáveis dentro do carro também ajuda na hora das compras. É preciso usar a imaginação e ter força de vontade para poupar a natureza”. Para saber mais: Campanha “Saco é um saco”.

Os 4 Rs das Sacolas plásticas

RECUSAR – Sempre que puder, recuse a sacola plástica e ajude a diminuir a demanda por recursos não-renováveis.

REDUZIR – Pense se você realmente precisa de tantas sacolas plásticas armazenadas em casa. Diminua a quantidade guardada, mas não jogue fora, vá armazenando menos e racionalize seu uso.

REUTILIZAR – É usar de novo, dar outra finalidade. Use como saco de lixo, sacola de novas compras, embalagem etc.

RECICLAR – É transformar materiais para a produção de matéria prima para outros produtos por meio de processos industriais ou artesanais. As sacolas plásticas também são recicláveis. Até as que se rasgam devem ser encaminhadas para a reciclagem, como o plástico da garrafa PET. Nunca jogue fora no lixo comum.

Adaptado de http://odireitoeosanimais.blogspot.com/2010/03/sacolas-plasticas-podemos-viver-sem.html, extraído da revista Senac e Educação Ambiental, ano XVIII, Nº 2. Infelizmente, o texto teve que ser largamente editado. As fotos, devido à essa edição, não correspondem àquelas originais, assim como a organização dos parágrafos. Autoria original de Monica Maria.

Um comentário:

MOBI disse...

Muito boa postagem e muito bom blog. Como posso entrar em contato com você? Por favor envie seu email. Obrigado. MOBI - Mobilização Ambiental

Obrigado por visitar o Blogue Jovem Ambientalista!