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terça-feira, 9 de março de 2010

Educação Ambiental Multidisciplinar


Walter Có é Mestre em Ecologia pela Universidade Federal de São Carlos, em SP, e graduado em Biologia pela UFES. Além disso é autor do livro “Gaia, uma semente: Educação Ambiental Multidisciplinar” e leciona na Faculdade de Santa Teresa (ESFA) e Faculdade Novo Milênio.

Quando se fala em meio ambiente, existe uma fórmula ideal para se construir cidadãos conscientes de seu papel nesse mundo? O que você considera certo e errado quando se aborda o tema com os alunos? Em minha experiência pessoal ainda não encontrei nada mais eficiente para despertar a consciência ambiental do que o contato direto com a natureza. Percebo que as palestras, cursos e oficinas, muito utilizados nas práticas da educação ambiental, trabalham muito o discurso sobre o tema, mas não são suficientes para uma transformação individual ou coletiva. Estar informado a respeito dos problemas ambientais parece não ser garantia de mudanças mais profundas no indivíduo, em sua concepção de mundo e, por fim e mais importante, em suas ações, que é o principal objetivo da educação ambiental. O que percebo atualmente é uma sociedade mais informada a respeito das questões ambientais, mas com as mesmas práticas e valores que sempre comprometeram o ambiente, em uma velocidade ainda maior e um imediatismo crescente. Por outro lado, o que vivencio com os alunos com quem trabalho é que o contato com os ambientes naturais toca algo além da mente. Quanto à sala de aula, a questão é mais complexa. Principalmente porque não existe apenas um tipo de sala de aula na Brasil. O que tenho aconselhado aos professores com quem trabalho é que primeiramente conheçam a realidade dos alunos com quem vão trabalhar e que a partir dessa realidade tracem estratégias próprias para abordar os temas mais relevantes.
É possível conceber uma educação ambiental dissociada do trabalho com a família, com a comunidade? Qual é o papel dos pais nesse contexto? A educação ambiental surgiu por uma causa simples, a nossa sobrevivência. Já faz algum tempo que percebemos ser impossível continuar vivendo nosso sonho coletivo de consumo desenfreado, crescimento populacional explosivo, exploração inconseqüente dos recursos naturais e poluição generalizada. O recado é simples: ou tornamos nossa existência compatível com a existência da Terra ou simplesmente desapareceremos, pois a Terra pode muito bem viver sem os seres humanos. O que está em jogo, então, é a nossa sobrevivência como espécie. Um dos grandes problemas, porém, é que não pensamos como espécie e sim como indivíduos. Ninguém está disposto a abrir mão do conforto e da futilidade presentes, para pensar nas gerações futuras ou no vizinho do lado. Como promover a qualidade de vida para todos? Como utilizar melhor os recursos naturais? Como viver melhor, ser mais feliz consumindo menos? De que maneira viver na Terra sem destruir o restante dos seres vivos? Tais questões estão muito acima das escolas, das famílias ou de qualquer outra instituição social. Tais questões devem permear todo o tecido social e deveriam ser a prioridade, o foco de economistas, políticos, educadores e pais. Para isso nasceu a educação ambiental, para transformar a sociedade do desperdício e da poluição em uma sociedade sustentável e ambientalmente coerente. Mas então, onde o processo emperra? Por que não vemos essa transformação acontecer? A resposta é simples: nós ainda não mudamos, apenas enxergamos a necessidade de mudança. Portanto, percebo a família e a comunidade envolvidas em um processo muito maior e mais dinâmico que restringe seu poder de atuação na construção da educação ambiental. Precisamos na realidade de um pacto global que envolva toda a sociedade, tanto em seu conjunto de valores quanto ao sistema produtivo e planejamento político, passando então pela escola e família que estariam em sintonia com uma nova proposta de construção social.
De que forma é possível fazer uma sensibilização sobre o tema Meio Ambiente surtir efeito? Qual é a melhor estratégia para se trabalhar o assunto? Não vejo a educação surtindo efeito senão dentro de um projeto maior para a humanidade. Estamos vendo, pela primeira vez, uma discussão global a respeito deste projeto em função das mudanças climáticas derivadas do aquecimento global. Há uma busca tecnológica por energias mais limpas e sistemas mais eficientes, há uma mobilização política em torno de ações ambientalmente mais sensatas e uma preocupação sincera com o que está acontecendo. Nosso modelo de vida que antigamente poluía rios e ameaçava espécies, agora abrange o globo e ameaça o equilíbrio climático do qual dependemos para colher nosso alimento e saciar nossa sede. Frente a tamanha ameaça, acordamos e talvez, apenas talvez, o discurso possa dar lugar à prática. Frente a este cenário, onde as ações precisam ser rápidas e transformadoras, precisaremos repensar nossas estratégias de educação.
Temos visto nos últimos anos uma intensa campanha sobre coleta seletiva de lixo, combate ao desperdício de água, entre outros assuntos. No entanto, vemos que muitas vezes não há coleta seletiva por parte das prefeituras, e o desperdício acontece em locais públicos. Como desenvolver uma cultura de preservação quando não há muitos exemplos disso por parte do poder público? O que chamamos de poder público, na verdade são pessoas como nós, que são muitas vezes responsáveis por ações que afetam a vida de todos. A mesma consciência que falta ao cidadão comum, falta também ao cidadão que representa o poder público. O poder público é apenas uma extensão da ignorância humana no que se refere à real importância dos ambientes naturais para o equilíbrio da vida na Terra. Por isso é cada vez mais importante a vigilância civil, organizada em ONGs, instituições acadêmicas, comunitárias, etc. Também é importante levar o conhecimento científico aos tomadores de decisão, a quem chamamos de políticos. Esse é mais um importante objetivo da educação ambiental, levar informação e conhecimento a quem vai decidir o destino das futuras gerações. A educação ambiental é o eco de muitas vozes que já perceberam que a humanidade precisa mudar. Espero que você, que irá trabalhar com o coração e a mente de pequenos seres humanos em formação, possa contribuir positivamente com essas mudanças. Boa sorte em sua jornada!
Esse texto foi adaptado do "Informe" de abril de 2008, um informativo mensal do Programa "A Gazeta na Sala de Aula", cujo arquivo está disponível em http://gazetaonline.globo.com/saladeaula/informativos/062008.pdf, sendo muito interessante a sua leitura.

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